"Nas pinturas de Michele Milan, como nas séries Espírito Santo e Manchas, nota-se presença de padrões por meio de um reticulado ou linhas paralelas. Tal importância conferida aos padrões é ainda mais nítida na séria denominada Tapetes, em que ordenações por faixas horizontais e verticais tramam relações precisas entre elas. Essas relações se dão por saltos de um padrão a outro, sustentados por linhas finas esbranquiçadas. Em Verde e Cidades, duas outras séries de pinturas, agora figurativas, os padrões esbranquiçados continuam presentes, embora de modo menos intenso. Nos últimos tempos, a pintura foi sendo substituída pelo desenho em iPad. Novos padrões surgem com a vinda do elemento circular. No processo de passagem para a colagem de recortes, os padrões, círculos e brancos configuram-se, uma vez mais, protagonistas. Nas primeiras colagens, então figurativas, os padrões esbranquiçados e círculos não são quase observáveis. Ao passar para composições abstratas, aos poucos, surgem colagens com um centro, do qual o círculo desponta por meio de padrões de colagem dispostos como raios. Talvez apresentem, neste ponto, certa densidade de elementos. Nesse processo, a partir do centro, a colagem passa a circundá-lo. Os esbranquiçados e os brancos retornam, arejando a composição. Não seriam padrões habituais, uma vez que haveria uma interrupção inerente que o olhar sente ao passar de um padrão para o outro, como uma interrupção por dentro, segmentada. São recortes múltiplos, aderido apenas por parte do suporte. As partes comunicam-se, numa coreografia complexa e bela. Mas a área do suporte, em determinados casos, não se mostrou suficiente. Os recortes foram, assim, se desprendendo e, como que pairando, encontraram-se em composições tridimensionais, leves e harmoniosas, em que os brancos ainda se fazem notáveis por meio dos vazios do espaço circundante. São móbiles que flutuam." - Alberto Tassinari