"Lavrar a terra: a força atávica na superfície plástica. A presença de Sônia Maria Rodella Andrade ganha espaço entre artistas plásticos do século XXI, em expressão brasileira, atemporal. Nas obras figurativas e abstratas, em diferentes planos dimensionais, apresentadas, há um figural profundo que ata as telas em invariâncias. Em meio à pluralidade de tendências, Sônia elege fragmentos para constituir o objeto de sua criação. Nesse exercício de bricolagem, não se reúnem apenas partes de objetos alheios para a encenação plástica. Para Sônia, no ritmo que constrói a dimensão espacial das telas, muitos dos fragmentos são parte de trabalhos anteriores que ela desconstrói para trazê-los em nova criação. Reinventa sentidos, movida pelo forte desejo de montar-desmontar-recriar, em movimento contínuo, em novas formas de expressão. Os espaços vazios, em meio ao artefato constitutivo de seus quadros, são plenos de sentidos, configurando, assim, seu próprio palimpsesto. A abertura permite a apreensão do inconcluso sob aparente definição. Nessa teatralidade, embora a solidão exija individualidade para mergulhar nas matrizes, estado de poesia em que o Artista se desvela, descobre-se o Humano na luta para superar a quase estaticidade dos fragmentos rumo à vida pulsante. A poesia plástica vibra em diferentes linguagens, acordando as latências, o arcaico primordial. Sônia Andrade traduz seu processo criador: “Meus quadros não têm tema deliberado, espaço, linhas ou qualquer forma, previamente definidos como direção. São, na maioria, fragmentos e têm a ver com a fusão, o informe, a dissolução da forma.” Sem projeto deliberado, sem hora definida para criação, a alma rompe a tela e se faz ver em pura sensibilidade. Em exercício contínuo de transformação, Sônia Andrade circula em tempo-espaço livre de armação. Assiste-se ao canto de louvor ao Humano, no fio atávico da Vida, transcendendo a Finitude, porque a obra é lavra do feminino em convulsões do plantio." - Marisa Giannecchini Gonçalves de Souza, Doutora em Semiótica e Estudos Literários (área de concentração – grego clássico) – UNESP Araraquara. Pesquisadora da pós-graduação em Relações Intersemióticas, UNESP Araraquara. Membro do Grupo CASA, projeto interuniversidades, de pesquisa e produção científica. Membro do Grupo PUC/USP e Faculdade de Ciências Políticas de Paris – em Sociossemiótica. Membro da ABES- Associação Brasileira de Estudos Semióticos. Parecerista de revistas científicas.